Arco Madrid 2023

A Feira ARCO de Madrid abriu com 211 galerias a apresentarem obras de 36 países, com obras de mais de mil artistas sob o tema “O Mediterrâneo: um mar redondo”.

Letizia Battaglia, Segesta, 2016

O gabinete de arquitectura do projecto aprovado encontrou diversas soluções de forma a gerir as diferentes propostas mostradas. Pequenos auditórios, rampas, arcos e disposição das instalações e exposições escolhidas. (https://officeforpoliticalinnovation.com).

Este ano são muitas as surpresas, as quais de tão variadas servem para vários gostos. Paralelamente, abriram cinco Feiras na capital espanhola. Aproveitam o ciclo de boas expectativas para contrariar o clima algo estagnado da economia espanhola. A Drawing Room Madrid faz um repouso este ano só vindo a aparecer em Outubro em Lisboa. No Museu Rainha Sofia, Galeria de Cristal do Palácio dos Cibeles, e na Feira Hybrid Art localizada no Hotel Petit Palace Santa Bárbara o qual foi transformado para servir de efeito de trampolim para artistas emergentes. 

Na Art Madrid´23 o tema escolhido pela curadora Natalia Alonso Arduengo roda à volta do Poema Alteridade de Mário Benedetti: ´´Sempre me aconselharam a que fosse outro/ e até me sugeriram que tinha/qualidades notórias para o ser / por isso o meu futuro estava na alteridade o único problema sempre foi / a minha teimosia congénita / nesciamente não Queria ser outro / por isso continuei a ser o mesmo´´ (https://proyectos.art-madrid.com/otherness/)

Salão de Arte Moderna

No Salão de Arte Moderna, dá-se a conhecer um dos trabalhos de Dali realizado para a ópera estreada em 1939 em Nova Iorque, A Bacanal. Só é mostrada uma parte por esta ter a dimensão de dez por dez metros. O preço desta fracção tem o valor de dois milhões de euros. A Feira Hybrid Art Fair (https://hybridart.es/en/fair/), UNVT Art Fair e JustMAD são mais algumas das outras propostas oferecidas.

No ARCO deste ano algumas polémicas não poderiam deixar de marcar um ponto de encontro. O cadáver de Picasso está à vista de todos numa escultura de Eugenio Merino ´´Aqui morreu Picasso´´ na Galeria ADN. Vestido a preceito com a sua camisola de riscas azuis e alpergatas pretas foi feito numa edição de 3 exemplares dos quais ainda restam este e outro por 45.000€ cada exemplar.

Muitas das obras foram vendidas mesmo antes da feira abrir. A qualidade das obras expostas é muito boa, bem como, as temáticas abordadas. 

As peças de Juan Munoz têm também cotações acima da média.

Aqui morreu Picasso do artista Eugenio Merino. Foto Feria Arco/ FB

A Galeria Elvira Gonzalez pede um milhão e meio de euros pela sua peça pendurada na parede. Três homens a falar sentados estão em cadeiras de tubo agarradas à parede. Parecem deuses a falar no limbo das piadas meio saloias.

Munoz

Um Miró por 2 milhões de euros em muito bom estado pode ser encontrado na Galeria Mayoral.

Galeria Mayoral com uma cerâmica de Miró em primeiro plano.

A artista Ana Barriga com o seu O Dinossauro (6) chama a atenção. Pudera a tela tem quase três metros de altura. Utiliza uma mistura de materiais. Acrílico, sprays, marcadores, tudo o que sirva para dar sensualidade e a sensação de tridimensionalidade aos seus quadros.

Nesta Galeria encontra-se um Vieira da Silva, três Mirós e um sino do Tapiés. O sino é de grandes dimensões. Dois crucifixos espetam-no diametralmente. O barrote de suporte parece consumido pelo fogo.  

Tapiés na Galeria Mayoral

Neste ano não houve censura como ocorreu em 1998 por ocasião da série de retratos de 24 ‘Presos Políticos’ de Santiago Sierra

Nesta galeria, a Helga de Avelar, expõe Karin Sander com algumas verduras penduradas num prego espetado na parede. Alface, tomate cherry, banana e uvas estão expostas ao preço de 7.500 euros cada uma. No fim só o prego restará (8).

Tudo isto deverá abrir o apetite aos 400 coleccionadores esperados e aos mais de 90.000 visitantes se ultrapassar os números de antes da pandemia de Covid-19. Na Galeria Carreras Mujica, se o seu bolso puder aguentar uma escultura de Chillida, terá de gastar 3,7 milhões de euros. A obra mais cara da feira pesa 1.500 kg.

Outra do mesmo autor mas menos pesada, está na Galeria Guilhermo de Osma por 2,4 milhões com 80 kg.

Chillida

Portugal, apresenta-se com 19 galerias no total e já tem agenda para Maio na sua edição exclusiva, a ARCO Lisboa.

Portugal não fica indiferente à pujança do mercado internacional. São esperadas algumas quebras mas não serão de muita monta. O mercado português não tem a dimensão e a internacionalização dos artistas espanhóis. É sabido e, por essa razão, as galerias portuguesas procuram rentabilizar o mais possível os seus investimentos e trabalham com artistas de diferentes países. A artista Joana Vasconcelos está presente através de uma edição de autor pela editora portuguesa Urucum. É uma edição de grande dimensão e de luxo. São editadas apenas dez cópias as quais contêm um pequeno painel de azulejos. Os painéis são diferentes e cada um é assinado pela autora.

Joana Vasconcelos

A Galeria 3+1 de Lisboa trouxe uma instalação Painting Stealing Paintings da artista Adriana Proganó, entre outros artistas da casa. 

A Galeria Carlos Carvalho mostra uma fotografia de Mónica de Miranda, Astronauta, Caminho para as estrelas de 2022. Com dimensões de 250 x 150 é uma impressão sobre papel de algodão. A astronauta remete para várias questões. A localização poderá ser uma ilha, a astronauta será de cor, está protegida do meio ambiente que a cerca. Mas faltam-lhe os outros elementos necessários à sua viagem e sobrevivência. O paraíso idílico que se pode transformar facilmente num enorme pesadelo, seja para quem for. O preço desta peça é de 10.000€.

Astronauta, Caminho para as estrelas, Mónica de Miranda

Ocupa uma área central e mostra obras de grande interesse. Rui Chafes A Filomena Soares trouxe um auto retrato da Helena Almeida, uma peça da Fernanda Fragateiro, um quadro de grande dimensões que serve de ex-libris de Peter Zimmermann de 2022. Resina epóxi de grande espessura sobre tela.

Peter Zimmernann

A Cristina Guerra mostra fotos do André Cepeda e pintura de Fernão Cruz, onde um guarda chuva espeta a pintura numa montagem especial. Intitula-se The Knife Thrower, O lançador de facas. Está à venda por 17.000 euros.

Esculturas e pinturas de João Maria Gusmão. Um auto retrato da dupla vestida de palhaços João Pedro Vale e Alexandre Ferreira por 6.900 euros. Um Matt Mullican muto interessante com 200 x 400 cm.

João Maria Gusmão na Galeria Cristina Guerra

Na Galeria Uma Lulik apresenta uma instalação vídeo de Paulo Arraiano com um écran sobre um monte de carvão (rocha vulcânica) onde se podem ler as letras do logotipo da revista financeira Forbes. Algumas pinturas dão o toque final com vários dos artistas da galeria. Fotografias de Isabel Cordovil, Paulo Lisboa e Paulo Arraiano.

Galeria Uma Lulik mostra Paulo Arraiano

Adrián Balseca é o artista em que a Galeria Madragoa apostou. Um artista do Equador mostra panos pintados de grande formato com o desenho de tractores antigos com as dimensões de 145 x 185 cm cada um. O conjunto incorpora uma instalação que dá voz às culturas notivas locais. Vários barris que contiveram produtos químicos e derivados do petróleo servem agora para as plantas tropicais que aí foram colocadas. Na legenda das telas pode-se ler que o derrame de crude deixou várias famílias indígenas sem qualquer recurso nunca tendo sido indemnizadas pelo sucedido. Uma mensagem de grande actualidade e coragem. Na voracidade do capitalismo tudo destrói à sua volta deixando a subsistência e autonomia de muitas populações severamente condenada.

Chirino na Richard Saltoun

Na Helga de Alvear, uma das mais prestigiadas galerias de Madrid, podemos ver uma instalação de José Pedro Croft. Aproveita mobiliário industrial de prateleiras e placas de pvc coloridas.

José Pedro Croft na Helga de Alvear

Apesar do enorme conservadorismo dos nossos irmãos estes conseguem dinamizar muito bem tudo o que tem a ver com economias de escala. As pontes que utiliza com a América Latina muito ajudam a pontuar o panorama criativo espanhol. Muitos dos coleccionadores têm sido substituídos por novos ricos endinheirados. Procuram decorar as suas paredes nas mansões que adquiriram no sul de Espanha. A participação de 15% de galerias daí provenientes mais os Estados Unidos demonstram a capacidade de encontrar pontos de contacto. O mercado americano faz quase metade de todo o mundo. Daí o cuidado colocado em galerias que têm representação em numerosos países. A Galeria Malbourgh, por exemplo, tem uma bela colecção de peças. Mostra o legado de Martin Chirino. Uma grande peça escultórica em ferro impressiona pelas suas formas convolutas e simétricas perfeitamente delineadas.

Malangatana na Richard Staunton 

A Richard Saltoun tem vários desenhos e pinturas do Malangatana  e de uma pintora também de origem moçambicana Bertina Lopes. É uma artista praticamente desconhecida em Portugal mas de grande qualidade. A sua obra foi exposta pela primeira vez em 1969 em Roma. Aí ficou pela intrasigência da política fascista do governo português. Apesar de ter estudado em Belas Artes e passado a maior parte da sua vida em Portugal, nunca aqui expôs. Será essa a razão do reconhecimento pela Itália que é considerado país da sua binacionalidade por se ter casado com um italiano. A galeria editou um livro sobre a sua obra.

Bertina Lopes

Ariel Cabrera

De Cuba, a Galeria El Apartamento tem um quadro que causa forte impacto do Ariel Cabrera. Mostra uma das suas cenas que envolvem barcos de luxo numa pintura realista. Da série Summertime podemos ver, numa tela de 2 por 2 metros, banhistas que se divertem a mergulhar do tombadilho de um iate. Em baixo encontram-se outras pessoas que apreciam as águas calmas das Caraíbas. Um oficial olha fardado para três jovens que se aproximam do barco. Uma delas está submergida. Não ser percebe se se afogou ou se olha o fundo do mar.

Dagoberto Rodriguez

Dagoberto Rodriguez é um cubano que pinta distopias. Lugares imaginários impossíveis de acontecer. A modernidade passa por criar ambientes especiais. Está na Galeria Peter Kilchmann. Com trabalhos de Teresa Margolles, Leiko Ikemura e e Christoph Hefti.

Galeria Perrotin Jean Michel Othoniel mostra quatro trabalhos numa instalação de blocos de cerâmica pintados e bolas. Três Nós Selvagens e um plano horizontal composto por tijolos azuis com um envidraçado metalizado, uma técnica indiana de cozimento.

Jean Michel Othoniel

É uma Feira do Livro de Arte dentro da Feira Arco (https://artslibris.cat/noticias/ https://artslibris.cat/editores/).

Conta com 67 expositores provenientes do Brasil, México, Equador e Portugal. Com origem em Barcelona já tem pouso assente em Lisboa. Todos os dias no Speakers´ Corner e a todas as horas se proferem pequenas palestras. O CENDEAC (), uma editora de Múrcia tem uma biblioteca com mais de 40.000 livros e promove as suas publicações com um catálogo de mais de uma centena de livros e revistas. Comemora os seus 20 anos de existência (www.cendeac.net/editorial). O ARCE- Associação das Revistas Culturais de Espanha apresenta um catálogo muito completo e publicações que podem ser consultadas (www.revistasculturales.com). A Revista Umbigo, portuguesa, está presente com uma banca enorme, se bem que só tenham uma revista por assistente por detrás dos seus Apple última geração (https://umbigomagazine.com / https://artslibris.cat/editor/umbigo/). 

Uma moça vestida de preto vende uma publicação em papel couché de boa gramagem. Serve para ajudar os artistas a singrar no mercado das artes. Custa apenas 10 euros. A maioria das bancas são de edições de autor, como o livro do artista Felix Deschamps Mak, lançado na feira. Com cerca de 912 páginas num formato volumoso, repleto de mais de mil fotografias que o artista utiliza para compor e inspirar-se nos seus trabalhos. Preço 500 euros para uma edição 50 exemplares e cinco provas de artista assinadas e numeradas.

A Feira ArtLibris esteve com grande movimento

Algumas notas foram retiradas do Jornal La Voz de Galicia, El País, do site Telemadrid e do kit de imprensa da Feira ARCO Madrid 2023.

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